Mestre de RPG? Por que não?

Falemos um pouco de Mestre de RPG, ofício por tantas vezes repudiado por uns, e amado por outros. Que faz gerar discórdias e agradecimentos.

MESTRE

O papel do Mestre

O Mestre é um tipo especial de jogador. Sem um Mestre, não existe jogo de RPG. Isso acontece porque, no RPG, cada jogador escolhe um personagem heróico para interpretar durante uma aventura. Mas uma aventura não é só feita de heróis; existem personagens secundários, monstros, armadilhas, masmorras, vilões, inimigos, veículos, princesas, reis e príncipes e todo tipo de coisa. Esses elementos são controlados pelo Mestre. O Mestre controla o mundo dos heróis.

Quando uma aventura tem início, é o Mestre quem apresenta para os jogadores o cenário, o enredo e o objetivo da aventura. Os jogadores, por sua vez, nada fazem sem que o Mestre do jogo saiba. Sempre que ele quiser fazer algo (lançar uma magia, usar um superpoder, cometer diablerie…), ele tem que avisar ao Narrador (outra denominação bastante usada para o Mestre). Se ele não avisa ao Mestre, sua ação não existe. Dependendo da ação, o GM (mais uma denominação) pede um teste para verificar se o personagem é bem sucedido ou não. Em quase todos os jogos de RPG, os testes são efetuados jogando dados.

“Então, o Mestre comanda o mundo, o que eu faço e todos os monstros? Então ele existe para fazer da minha vida um inferno? Ele é meu inimigo!”

Bom, ele até PODERIA ser seu inimigo, mas não é assim que funciona. O Mestre tem controle total sobre tudo que acontece na aventura. Se ele quiser, nada funciona; nenhuma arma atinge o alvo, nenhuma magia faz efeito, nenhuma disciplina é aceita. Ele pode até mudar as regras do jogo. Ele é o Manda-Chuva, o Chefe, O Superior, O Grandão, O Mais.

Mas O MESTRE NÃO JOGA CONTRA OS JOGADORES. Sua função é propor desafios, obstáculos, riscos, emoções que os jogadores devem sentir e superar. Ele é quem inventa uma estória emocionante para que os jogadores se divirtam. E quanto mais habilidoso e criativo o Mestre, melhores as suas aventuras.

RPG é um jogo onde ninguém vence ou perde, porque tem como objetivo a diversão, e o dever do Mestre é assegurar essa diversão. Isso é que é ser Mestre; fazer com que os jogadores se divirtam (e divertir-se junto, claro).

As obrigações de um Mestre iniciante não são muitas; conhecer bem o sistema, preparar uma aventura (ou utilizar uma pronta), elaborar com os players as planilhas de personagens e não deixar que os jogadores estraguem a sua aventura.

Para um Mestre experiente, essas obrigações ficam ainda maiores.

A RESPONSABILIDADE de ser um Mestre

O RPG pode ser comparado com uma sessão de psicodrama. Em uma sessão de psicodrama, a pessoa tem que dizer o que ela faria em certa situação. Só que as situações propostas tem como objetivo analisar a mente do paciente. Através de processos catárticos, os psicólogos e psicoterapeutas interpretam suas ações e reações.

A catarse é uma lembrança fortemente emocional, criada a partir de situações dramáticas. Essas situações trazem à tona sentimentos variados, desde terror até amor e fixam-se no espectador que, no caso, é o jogador, quando está interpretando seu personagem.

Para entender melhor um processo catártico, imaginem um jogo de futebol na televisão, ou um filme romântico. Quando o jogador do time para o qual você está torcendo faz um gol, você vibra, grita e fica alegre. Quando o mocinho beija a mocinha, depois ela morre, você chora junto com o mocinho. Por que? Porque quando o jogador faz um gol, você IMAGINA ESTAR FAZENDO O GOL. Quando a mocinha morre, você IMAGINA QUE MORREU O GRANDE AMOR DA SUA VIDA. Isso é um processo catártico. Sentir emoções através de outras pessoas.

E é exatamente o que os jogadores de RPG fazem. Imaginam-se guerreiros, magos ou seres mágicos e VIVEM esses seres ou pessoas. SENTEM tudo o que o personagem sente. E depois que o jogo acaba, o sentimento não vai embora. Ele fica guardado no seu inconsciente.

Aí é mora o perigo. Como Mestre, VOCÊ É O RESPONSÁVEL por esses sentimentos que os jogadores vão levar embora.

Então, a MAIOR RESPONSABILIDADE do mestre experiente é: SEMPRE CRIAR AVENTURAS QUE FAÇAM O JOGADOR TER DE REALIZAR AÇÕES BOAS.

“Quer dizer que eu nunca mais vou poder deixar o jogador matar ninguém?”

Não é bem isso. Os players podem matar os inimigos. Mas eles tem que sentir algum sentimento ruim depois das matanças, tipo, descobrir que a família do bandido estava esperando o primeiro filho e que o menino já vai nascer sem pai.

Todos os sistemas de RPG desencorajam a criação de personagens malignos por essa razão. Até mesmo em Vampiro: A Máscara, o personagem, que é um morto-vivo assassino, tem que lutar o jogo inteiro contra seu demônio interior para não virar um ser maligno. Por isso existe a pontuação de humanidade.

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Esse texto foi retirado do blog RPG Sem Compromisso, do Emilson. O texto é originalmente de  Felipe C. Pacca e Thiago V. Mari.

3 pensamentos sobre “Mestre de RPG? Por que não?

  1. Fala, Alexandre!
    No site do Greg Stolze [www.gregstolze.com], na seção de downloads, tem um .pdf de nome “How to run a roleplaying game”. Vale a pena dar uma conferida!

  2. gostei muito desse post. muito bom mesmo. não sou um mestre experiênte, mas comecei a jogar RPG há mais ou menos 10 anos. porém, fiquei muito tempo sem jogar. e recentemente quero voltar a jogar, porém como mestre. joguei muito RPG de pokemon e um pouco do RPG supers da Daemon. e será este que vou passar a mestrar, mesmo ainda não tendo um grupo. vou começar mestrando para o meu irmão. e, quem sabe, um dia eu tenha um grupo!?

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